sábado, 3 de outubro de 2009


Análise do poema galego - “O maio”- de Manuel Curros Enríquez:

O Maio

Aí vén o maio
de flores cuberto...
Puxéronse á porta
cantándome os nenos;
e os puchos furados
pra min estendendo,
pedíronme crocas
dos meus castiñeiros.

Pasai, rapaciños,
calados e quedos;
que o que é polo de hoxe
que darvos non teño.
Eu sonvos o pobre
do pobo galego:
pra min non hai maio,
¡pra min sempre é inverno! ...

Cando eu me atopare
de donos liberto
e o pan non me quiten
trabucos e préstamos,
e como os do abade
florezan os meus eidos,
chegado habrá entonces
o maio que eu quero.

¿Queredes castañas
dos meus castiñeiros? ...
Cantádeme un maio
sen bruxas nin demos;
un maio sen segas,
usuras nin preitos,
sen quintas, nin portas,
nin foros, nin cregos.
Comentários:
Começando pela parte estrutural, podemos notar que Manuel Curros Enríquez introduz uma glosa logo na estrofe inicial. E, com oito versos hexassilábicos cada uma, as quatro estrofes dá um esqueleto rígido ao poema.
Fenômenos lingüísticos são observados no poema de Curros Enríquez. Primeiro, um fenômeno da própria língua galega que, por um recurso estilístico, se utiliza da adição final de uma vogal (-e) no verbo atopar (encontrar) :
“Cando eu me atopare” [Est. 3; V. 2]
O castelanismo também ocorre:
“chegado habrá entonces” [Est. 3; V. 7]
Já passando pelas figuras de linguagem, a nível semântico, o próprio título - O maio - já é uma grande metáfora. Ela simboliza o produzir da terra, o nascer das flores, a Primavera. “Pedindome crocas” [Est. 1; V. 7] simboliza as migalhas, esmolas, a pobreza que o povo de Galicia vem se submentendo.
E assim se vale para outras palavras:

”sen segas, Sem cortes, retaliação
[...]nin
portas, ” Nem prisões, falta de trabalho
[Est. 4; V. 5 e 7]


Este mesmo “maio”, como simbolo de Primavera, faz antítese [Est. 2; Vs. 7-8]
pra min non hai maio,
¡pra min sempre é inverno! ...

A Igreja esta simbolizada pela metonímia em:
“e como os do abade” [Est. 3; V. 5]
“nin foros, nin
cregos.” [Est. 4; V. 8]

E no mesmo verso da 3ª estrofe, existe uma comparação, com um toque de ironia:

“e como os do abade / florezan os meus eidos,” [Est. 3; Vs. 5-6]

Neste exemplo acima, também podemos evidenciar o recurso da inversão (hipérbato).

Quanto ao nível morfossintático e fônico, podemos observar no poema a anáfora e a aliteração:

sen
bruxas nin demos;
un maio
sen segas,
usuras
nin preitos,
sen quintas,
nin portas,
nin foros, nin cregos.
[Est. 4; Vs. 4-8]

As rimas podem ser tanto a nível vocálico (silábica) como fônico (sibilar):

1ª estrofe
mai
o/cuberto # nenos/estendendo #furados/crocas/castiñeiros

2ª estrofe
rapaciñ
os/ calados e quedos # hoxe/pobre #teño/galego #maio/inverno

***
O poeta denuncia a emigração da Galícia, a pobreza dos que ficaram, tem compaixão por estes e os defende das injustiças, que vive entre os riscos econômicos - seca, fome, miséria - e os riscos advindo do poder – riqueza senhoril, impostos e taxas.

E ao mesmo tempo Enríquez ataca um de seus desafetos que a Igreja – a instituição – que, meio ao caos, ainda usurpava o povo galego pobre e infeliz que vivia então em meio a uma crise econômica sem precedentes.

Este poema “O maio” possui uma temática sócio-política – e que podemos chamar também temática de compromisso ou realista. Com um mote mais existencialista e filosófico, tendo sempre a Galícia como pano de fundo.





Um comentário:

Tatyane Diniz disse...

Querido!
Gostei de seu espaço!
belos textos
um abraço!
sigamos,
taty

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