sábado, 25 de outubro de 2008

Sobre Liberdade e Professores


Assisti ao filme “Escritores da Liberdade” 2 vezes este semestre. Que bom! Duas leituras diferentes. Dois ambientes, dois objetivos.
A primeira vez foi com a turma de Didática e Práxis II na amostra de filmes na FACED, para avaliarmos os desafios “práticos” de um professor, as dificuldades e as soluções encontradas para um melhor caminho.
Num segundo momento, foi com a turma de Produção Textual. Com o intuito de avaliar as possíveis leituras/linguagens utilizadas no contexto.
Aproveitei para fazer minha leitura das turmas. Digo comportamental: a primeira (de Didática) era composta por futuros formandos, alguns já professores – como eu. Uma turma que vive a angústia da sala de aula prestes a serem desbravadas em breve por eles (nós) mesmos. A segunda (de Prod. Textual), era predominantemente iniciantes, ainda em dúvida do tipo “ser ou não ser” na Faculdade.
Para o primeiro grupo, o filme foi mais impactante de imediato. O “click” foi logo com a cena da caricatura e associação com o holocausto. A partir daí foram emoções e desafios. Cada passo dado, obstáculo transposto por Sra. Erin Gruwell, nos sentíamos aliviados, solidários a ela. As cenas impactantes, que não foram poucas, emocionaram a todos os presentes.
No segundo grupo, risos soltos pareciam demonstrar que o filme seria engraçado. Entre uma cena e outra, eu não conseguia identificar a “solidariedade” vivida no primeiro grupo. Mas, aos poucos, os risos iam se dissipando, ‘amarelando’. Para isso foram necessários vários “click’s” durante o filme: a “caricatura”, “o jogo da linha”, “a entrevista com Sra. Miep Gies” e “o brinde da mudança”. A emoção, enfim, tomou conta do grupo.
Foi engraçado - a observação da turma; pois o filme, pra mim, ainda me emociona. Vai ser um daqueles filmes que você assiste mil vezes e se emociona mil e uma.

A leitura da didática e da linguagem

A crise da educação foi exemplificada no filme mostrando duas deficiências que se relacionam: a incapacidade de a escola levar os alunos para pensar e a perda da autoridade dos pais e professores.
A visão da Profª Gruwell vai além dos muros da escola. Eis o professor reflexivo que promove a verdadeira educação que auxilia na emancipação do aluno enquanto indivíduo da sociedade, levando o a viver, a se tornar cidadão responsável pelo ambiente a sua volta, seja ele social, político, ou cultural.
“Srª G” busca motivar a união entre o pensamento científico, e o humanista, vivendo e enfrentando as incertezas dentro de uma visão que transpõe, muitas vezes, a didática em sala de aula.
Quanto à linguagem, esta busca aproximar os lados, valora o reconhecimento, promove a mudança. Sem momento algum menosprezar nenhuma das partes.
No filme foi utilizada a linguagem oral, visual e escrita. Elas se entrelaçam, tem o objetivo de transformar, provocar. E todas com um apelo emocional de fundo.
O museu do holocausto, a entrevista com Srª Gies, e obviamente o Diário são ferramentas de linguagem. Os alunos, antes seres indomáveis, são provocados, e ao mesmo tempo transformados, quando se reconhecem diante da leitura das realidades do mundo a sua volta.
Vejo o papel do educador como um motivador de transformações individuais e comunitárias. E com um papel indispensável no planejamento de novas realidades sociais, a partir da conscientização de cada ser humano como autor de possíveis avanços em sua própria vida e, principalmente, em sua comunidade.

“Srª G” e Eu

Vi a professora Gruwell diante de alunos gângsteres marginalizados. Eu sou professor de futuros policiais. Os desafios? Os mesmos. Enquanto minha colega (ousadia minha!) se ver num desafio de ensinar aos seus a “ler e a escrever”, me vejo procurando o motivo para ensinar aos meus a matéria Língua Inglesa.
Estamos diante de ambientes diferentes – quase diametralmente opostos- de uma mesma realidade. Enquanto seus alunos vivem à margem, e usam da violência entre si para se protegerem, os meus irão um dia trabalhar tentando controlar esta, de forma ordeira e justa.
Muitos policiais virão, e tanto quanto ou mais à margem também. Novos desafios surgirão. Soluções pra todos? Não teremos. Nós não sabemos. Ninguém sabe.
Hoje seus alunos lêem e escrevem o mundo a sua volta, de forma que se reconheçam e se valorizem. Eu tento transformar motivo em motivação - mútua. Quero ir além da língua estrangeira, além da empregabilidade. Quero responsabilidade, tolerância e cidadania.
Quero fazê-los pensar.
Pensar fundamentalmente é provocar, criar, modificar definições produzidas pelo (re)conhecimento e pela compreensão, e que vão sendo perpetuados na história.
É dá a liberdade àquilo que ficou preso nos limites de sua própria definição.
Srª G soltou algumas amarras, ampliou algumas fronteiras. Ela está um pouco à frente em sua caminhada. Mas eu ainda chego lá.

Um comentário:

Inside Me disse...

ameiiiiiiiiiii esse filme qd vi, é mt bom, tb sou profª, é uma lição de vida!

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