Análise do trecho do livro ”Cousas” - “O pai de Migueliño”- de A. Daniel Castelao:
O pai de Migueliño chegaba das Américas e o rapaz non cabia de gozo no seu traxe festeiro. Migueliño non sabia cos os ollos pechados como era seu pai;pero antes de sair da casa botoulle unha ollada ao retrato.
Os “americanos” xa estaban desembarcando. Migueliño e súa nai agardaban no peirao do porto. O corazón do rapaz batíalle na táboa do peito e os seus ollos esculcaban nas greas, a procurando pai ensoñado.
De súpeto avistou de lonxe. Era o mesmo do retrato, ou ainda mellor portado, e Migueliño sentiu por el un grande amor e cando mais se achegaba o “americano” máis cobiza sentia o rapaz por enchelo os bicos. Aí, o “americano” pasou de largo sen mirar para ninguén, e máis cobiza deixou de querelo.
Agora sí, agora sí que o era. Migueliño avistou outro home moi ben traxeado e o corazón daballe que auel era o seu pai. O rapaz devecía por bicalo a fartar. Tiña un porte de tanto señorio! Aí, o “americano” pasou de largo e nin tan sequera reperou en quen o seguian os ollos angurentos dun neno.
Migueliño escolleu así moitos pais qeu non eran e a todos quixo tolamente.
E cando esculcaba com mais angúria fixose cargo de que um home estabo abrazando a súa nai. Era un home que non se parecia ao retrato; un home mui fraco, metido nun traxe moi frouxo,un home de cera, coas orellas fóra do cacho, cos ollos encoveirados, tusindo...
Aquel si era o pai de Migueliño.
Comentários:
O narrador-onisciente conta a história em 3ª pessoa. Ele conhece tudo sobre Migueliño, sabe o que passa no seu íntimo, passeia por suas emoções e pensamentos, e também mostra seu domínio sobre o enredo.
Quando o narrador se faz assim presente, o enredo se torna plenamente conhecido, os antecedentes das ações, suas entrelinhas, seus pressupostos, seu futuro e suas conseqüências.
O uso do diminutivo – Migueliño – remete ao cuidado, a uma intimidade, que aproxima ainda mais a tríade narrador-personagem-leitor.
Com um estilo bem trabalhado, ele descreve de maneira simples, e com uma riqueza de detalhes a emoção vai da expectativa à chegada do pai de Migueliño.
Essa riqueza de detalhes na produção literária de Daniel Castelao se assemelha muito a sua produção gráfica. Ele era tão bom escritor quanto desenhista.
A contemplação do retrato do pai emigrado forma no pequeno uma imagem idealizada que está muito longe da realidade.
As repetições de expressões, como,
“Aí, o “americano” pasou de largo...”
(l. 9 e 13)
(l. 9 e 13)
Representa o vértice de oscilação do sentimento de frustração de Migueliño.
A adjetivação e expressões adjetivas reforçam a antítese da idealização e a realidade. Para os “americanos”:
“portado, traxeado, porte de tanto señorio”...
E para o verdadeiro pai:
“fraco, frouxo, de cera, orellas fóra do cacho, ollos encoveirados, tusindo”....
Neste ultimo caso também temos uma repetição e gradação;
“Un home que non se parecia ao retrato; un home mui fraco, metido nun traxe moi frouxo, un home de cera, coas orellas fóra do cacho, cos ollos encoveirados, tusindo...”
(l. 18-19)
(l. 18-19)
Um texto de frases e de parágrafos curtos compõe a prosa popular emotiva de Castelao que facilita a aceitação pelo publico. Nesse pequeno trecho já há um desenlace com direito a clímax tenso e frustrante no final.
No texto, utiliza-se da fotografia familiar como recurso de interiorização. Aqui também se evidencia um comportamento social: o retorno do imigrante. Registrado no mais puro galego. Com isso Castelao valoriza o sentimento a terra, recupera os sinais de identidade, fortalece e dignifica a cultura e língua galega.
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