Tô ficando velho! Um dia
desses, às 2 da manhã, peguei o carro e fui buscar minha filha adolescente, na
saída do show do Charlie Brown Jr. Ela e as amigas estavam eufóricas e eu ali,
meio dormindo, meio de pijama, tentei entrar na conversa.
"E aí, o show foi legal
?"
A resposta veio de uma mais
exaltada do banco de trás:
"Cara! Tipo assim,
foda!"
E outra emendou:
"Tipo foda mesmo!"
Fiquei tipo assim, calado o
resto do percurso, cumprindo minha função de motorista.
Tô precisando conversar um
pouco mais com minha filha, senão, daqui a pouco, vamos precisar de tradução
simultânea. Pra piorar ainda mais, inventaram o ICQ, essa praga da Internet,
onde elas ficam horas e horas escrevendo abobrinhas umas pras outras, em código
secreto.
Tipo assim: "kct! vc
tmb nunk tah trank, kra. Eh d+,
sl. T+ Bjoks. Jubys".
Em português: "Cacete!
Você também nunca está tranqüila, cara. É demais, sei lá. Até mais, beijocas.
Jubys". Jubys, que deve ser pronunciado "diúbis", é isso mesmo
que você está imaginando, a assinatura.
Só que o nome de batismo é
Júlia, um nome bonito, cujo significado é "cheia de juventude", que
eu e minha mulher escolhemos, sentados na varanda, olhando a lua...
Pois, Jubys, é hoje, essa
personagem de cabelo cor de abóbora, cheia de furos na orelha, que quer encher
o corpo de piercings e tatuagens.
Tô ficando velho!
Outro dia, tentei explicar
pro mesmo bando de adolescentes o que era uma máquina de escrever. Nunca viram
uma.
A melhor definição que
consegui foi: "é tipo assim... um computador que vai imprimindo enquanto
você digita". Acho que não entenderam nada !
Eu sou do tempo do
mimeógrafo. Pra quem não sabe, é uma máquina que você coloca álcool e dá
manivela, prá imprimir o que está na folha matriz. Por sua vez, essa matriz
precisa ser datilografada (ver "datilografia" no dicionário) na tal
máquina de escrever, sem a fita (o que faz com que você só descubra os erros
depois do trabalho feito), com o papel carbono invertido...
Enfim, procure na Internet,
que deve haver algum site sobre mimeógrafo, papel carbono, essas coisas... Se
eu ficar explicando cada vocábulo descontinuado, não vou conseguir acompanhar
meu próprio raciocínio.
Voltando às garotas, a
cultura cinematográfica delas varia entre a "obra" de Brad Pitt e a
de Leonardo de Caprio. Há anos tento convencê-las a ver "Cantando na
Chuva", mas, sempre fica para depois.
Um dia, cheguei entusiasmado
em casa, com a fita de um filme francês que marcou minha infância : "A
guerra dos botões".
Juntei toda a família para a
exibição solene e a coisa não durou nem 5 minutos! O guri foi jogar bola, Jubys
inventou "um trabalho de história sobre a civilização greco-romana que tem
que entregar tipo assim até amanhã senão perde ponto"
E, até minha mulher, de quem
eu esperava um mínimo de solidariedade, se lembrou que tinha um compromisso com
hora marcada e se mandou. Fiquei ali, assistindo sozinho e lembrando do tempo
em que eu trocava gibi na porta do Capitólio.
Uma amiga me contou que o
filho de 10 anos ficou espantado, quando viu um telefone de discar. Sabe
telefone de discar?
É tipo assim, um aparelho
sem teclas, geralmente preto, com um disco no meio, todo furado, onde cada furo
corresponde a um algarismo. Você enfia o dedo indicador no buraco
correspondente ao número que precisa registrar, gira o negócio até uma meia lua
de metal e solta a roleta, que, lá por dentro está presa a uma mola e faz ela
voltar à sua posição inicial.
Esse aparelho serve para
conversar com outra pessoa, como qualquer telefone comum, desde que esteja, é
claro, conectado na parede.
Eu sou do tempo em que vidro
de carro fechava com maçaneta. E o Fusca tinha estribo e quebra vento. Não
espalha, mas, eu andei de Simca Chambord, de DKW, Gordini, Aero Willis e até de
Romiseta.
Não dá pra explicar aqui o
que era uma Romiseta. Só vou dizer que era tipo assim um veículo automotivo,
com 3 rodas, que a gente entrava pela frente e a direção era grudada na porta.
Procure na Internet, deve haver um site!
Tá bom, tá bom, confesso
mais! Usei Camisa Volta ao Mundo, casaquinho de Ban-lon, assisti à Jovem
Guarda, o Direito de Nascer... Mas, é mentira essa história de que meu primeiro
disco gravado foi em 78 rotações!
Há pouco tempo, João, meu
filho de 8 anos, pegou um LP e ficou fascinado! Botei pra tocar e mostrei a
agulha rodando, dentro do sulco do vinil. Expliquei que aquele atrito gerava o
som que estávamos escutando...
Mas aí, ele já estava
jogando o Pokemon Stadium, no Game Boy. Não é que ele seja desinteressado... eu
é que fiquei patinando nos detalhes. Ele até que é bastante curioso e adora
ouvir as "histórias do tempo em que eu era criança".
Quando contei que a TV,
naquela época, era toda em preto e branco, ele "viajou" na idéia de
que o mundo todo era em preto e branco, e, só de uns tempos para cá, é que as coisas
começaram a ganhar cores.
Acho que de certa forma ele
tem razão. “Tipo assim”...
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